Carregando agora

STF abre sigilo da delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu nesta quarta-feira (19/02) abrir o sigilo da delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A delação revela informações significativas e inclui:

  • Possibilidade de perdão judicial ou pena privativa de liberdade não superior a dois anos;
  • Restituição de bens e valores apreendidos do colaborador;
  • Extensão dos benefícios para seu pai, esposa e filha maior, conforme aplicável;
  • Ações da Polícia Federal para garantir a segurança do colaborador e de seus familiares.

Entre os principais pontos da delação, Cid menciona uma reunião em novembro de 2022, em Brasília, onde foram discutidas “manifestações” e estratégias para “mobilizar os caminhoneiros”. Ele afirma ter recebido dinheiro do então ministro da Defesa, Walter Braga Netto, que foi repassado em uma sacola de vinho no Palácio da Alvorada, com a intenção de facilitar um golpe de Estado, repassando os recursos a Rafael Martins de Oliveira, um dos articuladores da ação antidemocrática.

Cid relatou ainda sua participação em reuniões com militares que discutiam uma possível intervenção, mas deixou claro que não estava envolvido em nenhum planejamento detalhado.

“Eu não participei de nenhum planejamento detalhado, de nenhuma ação, meu mundo era o mundo do presidente, eu não estou mentindo, não estou omitindo […] o meu mundo era o presidente, o meu mundo de ação era o presidente, eu estou falando a verdade aqui”, afirmou o tenente-coronel.

A delação também revela divergências entre os filhos de Bolsonaro em relação à tentativa de golpe. O senador Flávio Bolsonaro(PL-RJ) defendia que o pai aceitasse a derrota e liderasse a oposição, enquanto o deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), apoiava a permanência no poder. O grupo radical contava ainda com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o ex-ministro Onyx Lorenzoni, o ex-assessor Felipe Martins e o senador Jorge Seiff.

Por outro lado, o grupo liderado por Flávio, que incluía Ciro Nogueira (então ministro da Casa Civil), Bruno Bianco, advogado-geral da União e o Brigadeiro Batista Júnior (comandante da Aeronáutica), argumentava que um golpe seria um erro estratégico e defendia o fortalecimento da oposição de maneira democrática.

Cid também acusou Bolsonaro de ter dado ordens para inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde, incluindo informações fraudulentas no ConecteSUS, com o intuito de obter vantagens ilícitas. Segundo as investigações, o certificado de vacinação de Bolsonaro foi emitido no dia em que ele viajou para os Estados Unidos, em 30 de dezembro de 2022, onde permaneceu por três meses após sua derrota nas eleições daquele ano.

Cid revelou que a venda de joias recebidas de líderes da Arábia Saudita foi motivada pela situação financeira de Bolsonaro, que enfrentava dificuldades com gastos relacionados a mudanças e ao transporte de seu acervo. Além disso, ele também estava lidando com multas de trânsito decorrentes de motociatas, por não usar o capacete, item obrigatório.

No total, Cid e seu pai, o general da reserva Mauro Lourena Cid, repassaram US$ 78 mil (equivalente a R$ 445 mil) entre 2022 e 2023, com transações realizadas no Brasil e nos Estados Unidos, destacando o repasse de US$ 20 mil a Osmar Crivelatti, assessor de Bolsonaro, em Miami, em fevereiro de 2023.

De acordo com o indiciamento, que ocorre quando investigações policiais indicam a autoria de um crime, a possibilidade de prisão do ex-presidente e dos outros indiciados só será considerada após o julgamento. Com a denúncia apresentada à Procuradoria-Geral da República (PGR), na terça-feira (18/02), caso o ex-presidente e os demais acusados sejam considerados culpados, o processo seguirá por todas as etapas legais. Os ministros da Corte avaliarão as evidências e decidirão se os envolvidos devem ser condenados às penas previstas pelos crimes que estão sendo acusados ou se serão absolvidos.

Jair Bolsonaro e Mauro Cid, na foto da matéria em destaque. Imagem: Isac Nóbrega/PR.

Share this content:

Publicar comentário