Mensagens mostram desavenças entre Jair e Eduardo Bolsonaro, tensão com Malafaia e articulações contra o STF
A Polícia Federal (PF) divulgou na quarta-feira (20/08), mensagens que revelam um forte desentendimento entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). A discussão, registrada em documentos de 170 páginas, inclui xingamentos e palavras de baixo calão, tendo como foco divergências sobre o apoio ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), apontado como possível nome da direita para a eleição presidencial de 2026.
As mensagens revelam a preocupação de Eduardo com a ascensão política de Tarcísio. Em um dos trechos, o parlamentar reclama da postura do pai e, demonstrando ciúmes políticos, diz: “Se o imaturo do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, porque você me joga para baixo, quem vai se f… é você”, referindo-se a contatos feitos nos Estados Unidos. Ele também ironiza um encontro entre o governador paulista e representantes do governo norte-americano, afirmando que apenas ele “teria acesso à Casa Branca”.
A PF aponta ainda que Eduardo permanece nos EUA desde fevereiro, sustentado por cerca de R$ 2 milhões arrecadados por doações via Pix. A ausência prolongada levanta questionamentos sobre o risco de perda de mandato por faltas no Congresso.
Outro ponto relevante da investigação envolve o pastor e líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia. Em áudio enviado a Jair Bolsonaro, o religioso critica duramente Eduardo, chamando-o de “babaca” e condenando seu discurso nacionalista.
“Vem o teu filho babaca falar merda dando discurso nacionalista que eu sei que você não é a favor disso”, diz trecho do áudio de Malafaia.
Malafaia também sugere maior aproximação com Flávio Bolsonaro, a quem elogia por declarações dadas em entrevista à GloboNews, relacionados a discussões sobre anistia.
“Dá parabéns ao Flávio, pô, falou certo”, afirmou Malafaia.
Apesar do tom ofensivo declarado, Eduardo respondeu com moderação, afirmando em vídeo publicado na rede social X que não se sentiu ofendido e que continua ao lado do pastor, classificando ambos como vítimas de “perseguição política” e minimizou dizendo, “tamo junto” com o pastor, sugerindo uma tentativa de preservar alianças políticas.
A troca de mensagens faz parte do material reunido pela PF na investigação que resultou no indiciamento de Jair e Eduardo Bolsonaro por tentativa de obstrução da Justiça. O relatório, enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) aponta que ambos teriam agido com “auxílio de material de terceiros” para fins ilegais, incluindo a atuação direta de Malafaia.
Segundo a PF, o pastor ultrapassou o papel de mobilizador político e passou a atuar como conselheiro de Bolsonaro, orientando estratégias para contornar decisões judiciais, principalmente no uso das redes sociais. A corporação também afirma que essas ações se inserem em um plano de mobilização contra instituições democráticas, como o STF.
Em áudios e textos, o pastor orienta Bolsonaro a condicionar a suspensão das tarifas à anistia, sugerindo ainda a gravação de vídeos para “viralizar a narrativa”. Em um trecho, ele diz que “tem que pressionar o STF dizendo que se houver uma anistia ampla e total, a tarifa vai ser suspensa.”
Diante das evidências, e com com aval da Procuradoria-Geral da República (PGR), o ministro Alexandre de Moraes autorizou nesta quarta-feira (20/08), a realização de busca pessoal e a imposição de medidas cautelares contra Malafaia, incluindo que o pastor está proibido de deixar o país e de se comunicar com Eduardo e Jair Bolsonaro por qualquer meio, e também com outros investigados e réus nas ações penais e inquéritos que apuram tentativa de golpe de Estado e obstrução de justiça.
Eduardo Bolsonaro, Jair Bolsonaro, Silas Malafaia e Tarcísio de Freitas, na matéria em destaque. Imagem: Reprodução/Redes Sociais.
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