Carregando agora

Disputa por gás no Amazonas deixa 600 mil pessoas no escuro, denuncia senador Dr. Hiran

Com 83% de seu território coberto por áreas de preservação ambiental, Roraima amarga a contradição de ser o único estado brasileiro fora do sistema nacional de energia elétrica. A promessa de um novo ciclo energético — limpo e mais barato — virou alvo de uma disputa judicial que expõe os impasses entre o desenvolvimento da Amazônia e os entraves impostos por parte do ativismo ambiental.

No centro da polêmica está o Campo Azulão, nos municípios de Silves e Itapiranga, no Amazonas. Ali, a empresa Eneva — que comprou o direito de exploração da Petrobras em 2018 — pretende extrair gás natural para abastecer a futura Usina Termelétrica Jaguatirica II, em Roraima. O empreendimento, que poderia reduzir em até 70% a dependência do estado do poluente e caro diesel, foi paralisado por decisão judicial a partir de uma denúncia de que haveria risco a grupos indígenas isolados supostamente localizados a 30 quilômetros do local de exploração.

O senador Hiran Gonçalves (PP-RR), que tem se posicionado publicamente contra o que chama de “excessos do ativismo ambiental”, gerou reações ao criticar a decisão baseada em um laudo produzido por uma ONG contrária ao projeto.

“Não houve escuta das partes envolvidas, nem da empresa, nem dos órgãos ambientais ou da Funai. É inegável os excessos em determinados ativismos que prejudicam a população, sobretudo a mais carente. Um exemplo claro ocorre quando, no afã de impedir a extração de gás natural de poços no Amazonas, com todo o licenciamento ambiental aprovado, na prática, condenam o estado de Roraima a se manter dependente de uma energia mais cara e mais poluente”, afirmou o senador.

O impasse revela uma constante amazônica: o dilema entre proteger a floresta e garantir qualidade de vida a quem vive nela. Em Roraima, os impactos são sentidos diretamente por uma população de mais de 600 mil habitantes, que seguem pagando mais caro por uma energia menos eficiente.

Parecer favorável

A suspensão das obras ocorreu mesmo com pareceres favoráveis de órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Só em maio de 2025 a situação foi parcialmente revertida com uma decisão da vice-presidente do TRF1, desembargadora Gilda Seixas, autorizando a continuidade das operações, desde que respeitadas as salvaguardas socioambientais.
Para o senador Hiran, o episódio reforça a urgência da aprovação da Lei Geral do Licenciamento Ambiental (PL 2.159/2021), recentemente aprovada no Congresso após duas décadas de tramitação. A proposta busca dar segurança jurídica a empreendimentos com potencial impacto ambiental, sem abrir mão da proteção ao meio ambiente e aos povos tradicionais.

“Não podemos mais aceitar que hipóteses não comprovadas impeçam a execução de projetos fundamentais para superar a pobreza e a exclusão no Norte do país. Roraima tem o direito de se desenvolver, assim como qualquer outro estado brasileiro. Temos insegurança energética, dependência de combustíveis fósseis e demora em ver a Amazônia como espaço de soluções — e não apenas de restrições. Pagamos um preço alto por isso enquanto estado em desenvolvimento”, argumenta o senador que acredita que enquanto o impasse persiste, Roraima continua pagando um preço alto.

Recorde

O consumo de gás natural no Amazonas bateu recorde em 2024, com uma média diária de 5,4 milhões de metros cúbicos (m³/d), o que representa um aumento de 4,89% em relação ao ano anterior.
O setor termelétrico lidera a demanda, com 4,5 milhões de m³/d, e o gás natural responde por 83,59% da matriz energética do estado.
A indústria também apresentou crescimento de 9,79%, com consumo diário de 189 mil m³, enquanto o setor comercial teve aumento de 16,44% e atingiu 6,6 mil m³/d.
No segmento residencial, a demanda subiu 41%, totalizando 4,1 mil m³/d. Os dados são da Companhia de Gás do Amazonas (Cigás).

Grandes nomes do mercado disputam o setor de gás natural

O mercado de gás natural no Brasil é alvo da disputa de grandes nomes do capital privado, como Rubens Ometto, dono do conglomerado Cosan, André Esteves, do banco BTG, e a família Botelho, forte em distribuição de energia elétrica com Energisa, que estendeu os negócios para o gás.

Ometto, por exemplo, investiu R$ 500 milhões em um gasoduto em São Paulo, ligando um terminal de importação de gás à região metropolitana. Porém, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) questiona o projeto, considerando-o fora das normas da Lei do Gás. A questão ainda está sendo discutida no Supremo Tribunal Federal (STF), com a possibilidade de um acordo intermediário.
Enquanto isso, a Eneva, uma das maiores produtoras de gás do país, também é observada com atenção. Embora tenha enfrentado um revés inicial em um leilão de potência, a empresa teve sua participação viabilizada por novas regras, o que reverteu a queda nas ações.

Foto da matéria em destaque: Gasoduto. Arquivo/Agência Brasil.

Share this content:

Publicar comentário